Adriano Augusto Fidalgo

Sobre o autor

Análise do filme: “O Círculo”
08/05/2024 às 18h35

Sinopse do Adoro Cinema[i]:

“The Circle é uma das empresas mais poderosas do planeta. Atuando no ramo da Internet, é responsável por conectar os e-mails dos usuários com suas atividades diárias, suas compras e outros detalhes de suas vidas privadas. Ao ser contratada, Mae Holland (Emma Watson) fica muito empolgada com possibilidade de estar perto das pessoas mais poderosas do mundo, mas logo ela percebe que seu papel lá dentro é muito diferente do que imaginava.”

"O Círculo" é um thriller tecnológico dirigido por James Ponsoldt, baseado no romance de Dave Eggers. O filme estrela Emma Watson como Mae Holland, uma jovem ambiciosa que consegue um emprego na empresa de tecnologia mais poderosa do mundo, O Círculo. A trama segue Mae enquanto ela é gradualmente absorvida pela cultura corporativa e pela ideologia do Círculo, uma empresa que busca total transparência e vigilância global.

No contexto do direito digital, "O Círculo" oferece uma perspectiva intrigante sobre questões relacionadas à privacidade, vigilância e ética no mundo digital. A empresa fictícia, O Círculo, representa uma fusão entre empresas de tecnologia como Google, Facebook e Apple, e seu mantra "Todos nós estamos conectados" ecoa a ideia de uma sociedade completamente transparente e monitorada.

Uma das questões centrais do filme é a falta de consentimento informado dos usuários em relação à coleta e uso de seus dados pessoais. O Círculo implementa sistemas de monitoramento em tempo real que violam a privacidade dos indivíduos sem seu pleno conhecimento. Essa prática levanta questões éticas e legais sobre o direito à privacidade e o consentimento do usuário, destacando a necessidade de regulamentação e proteção dos dados pessoais no ambiente digital.

Além disso, o filme aborda a questão da transparência versus privacidade. Enquanto o Círculo promove a transparência como um valor fundamental, o filme questiona até que ponto a transparência total é desejável ou viável. A exposição total da vida privada dos indivíduos pode levar a consequências negativas, como vigilância constante, manipulação de informações e falta de liberdade. Afinal, se confrontar com valores constitucionais como a privacidade, a intimidade, o direito a informação e outros se pode notar que a prevalência de alguns valores pode gerar danos a outros.

Outro aspecto relevante é a concentração de poder nas mãos de grandes corporações de tecnologia. O Círculo detém uma quantidade impressionante de influência e controle sobre a vida de seus usuários, o que levanta preocupações sobre monopólios e abuso de poder no setor de tecnologia. Esse cenário destaca a necessidade de medidas regulatórias para garantir a concorrência justa e a proteção dos direitos dos consumidores no ambiente digital.

"O Círculo" oferece uma reflexão provocativa sobre as implicações do avanço tecnológico e da interconectividade em nossas vidas, bem como sobre as questões éticas e legais relacionadas à privacidade e ao controle de dados no mundo digital. O filme serve como um lembrete oportuno da importância de equilibrar a inovação tecnológica com a proteção dos direitos individuais e a ética na sociedade digital moderna.

Levanta pontos como a transparência se choca ou se harmoniza com a Intimidade e privacidade da personagem principal e da sua família e amigos. Se fosse aqui no Brasil, como tais direitos humanos e fundamentais digitais seriam enfrentados? O que diria a LGPD sobre tais conflitos? Há uma clara superexposição. A partir do momento que Mae aceita participar do projeto tem uma câmera a acompanhando o tempo todo, inclusive tem tempo limitado para ir ao banheiro.

Em dado momento ocorre o uso das câmeras para localizar pessoas criminosas. E depois ocorre a morte do amigo pela perseguição que ele sofre. Usam as câmeras para justificar inclusive a proteção dos direitos humanos pelo mundo.

Mae e os colegas de trabalho são exigidos mais que o normal sobre a dedicação da empresa, não irem embora nos finais de semana, trabalhar muitas horas, ficar para o happy hour (dentro da empresa). Ocorre a avaliação dos colegas sobre o desempenho dela.

O colega que criou o programa a leva e mostra locais estratégicos, ocorrendo, ainda que para o bem do filme e dos valores que busca atingir, a violação da segurança da informação da empresa. Até desembocar na exposição de dados dos idealizadores da empresa que nada se agradaram. O filme também aborda a vigilância para proteção da democracia, o que algo bem discutível e foi abordado em algumas críticas a ele.

Sobre a superexposição, tal filme faz lembrar, em alguns aspectos, o Episódio 01, da Temporada 06, de Black Mirror, chamado “A Joan é péssima”, na síntese da própria Netflix[ii]: “Uma mulher comum descobre que um serviço de streaming transformou a vida e os segredos dela em um drama estrelado pela atriz Salma Hayek.” Assim, a vida dela é filmada e reproduzida horas depois de acontecidos os fatos, por atores.

Desta forma, o filme analisado trás importantes reflexões para o direito digital, notadamente no que diz respeito ao comportamento humano frente a novos desafios tecnológicos que impactam os nossos cotidianos e os nossos direitos que são colocados a prova.

 

 

[i][i] Disponível em: https://www.adorocinema.com/filmes/filme-234164/. Acesso em: 07 mai. 2024.
[ii] Disponível em:  https://www.netflix.com/br/title/70264888/. Acesso em: 07 mai. 2024.

© 2024 YesMarilia - Informação e entretenimento

Todos os direitos reservados