Como educadora sexual e psicóloga familiar com anos de experiência no campo, é fundamental abordar questões que afetam diretamente o bem-estar emocional e psicológico das vítimas de abuso sexual. Neste artigo, discuto a importância crucial de arquivar projetos de lei que obrigam crianças e mulheres a serem mães dos filhos de seus abusadores. Minha trajetória profissional me trouxe um profundo entendimento das complexidades envolvidas nessas situações delicadas, e minha missão é promover o respeito aos direitos humanos e à autonomia corporal das vítimas.
A Importância de Arquivar Projetos de Lei que Obriguem Vítimas a Serem Mães dos Filhos de seus Abusadores
Arquivar um projeto de lei que obrigue crianças e mulheres a serem mães dos filhos de seus abusadores é uma decisão crucial e sensata do ponto de vista psicológico e ético. Esse tipo de lei pode ter impactos devastadores na saúde mental e emocional das vítimas, além de violar seus direitos humanos e autonomia corporal. Este artigo explora as razões pelas quais tal projeto deve ser arquivado, incluindo estatísticas e realidades enfrentadas pelas vítimas no Brasil.
Impactos Psicológicos e Emocionais
Trauma e Revitimização
Forçar uma vítima de abuso sexual a carregar a gravidez resultante do abuso é uma forma de revitimização. A cada dia da gravidez e ao criar a criança, a vítima pode reviver o trauma, exacerbando os sintomas do Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). As vítimas de TEPT frequentemente enfrentam:
- Revivescências: Recordações intrusivas e angustiantes do evento traumático, como flashbacks e pesadelos.
- Evitação: Esforços para evitar lembranças do trauma, incluindo lugares, pessoas e atividades que possam recordar o evento.
- Alterações Cognitivas e de Humor: Pensamentos negativos persistentes sobre si mesmo ou sobre os outros, sentimentos de culpa, vergonha ou culpa, e perda de interesse em atividades anteriormente apreciadas.
- Reatividade Aumentada: Irritabilidade, dificuldade de concentração, hipervigilância, e respostas exageradas de sobressalto.
Impacto na Saúde Mental
A obrigação de manter uma gravidez indesejada pode levar a graves consequências psicológicas, incluindo depressão, ansiedade, e pensamentos suicidas. Essas condições podem prejudicar a capacidade da vítima de funcionar em suas atividades diárias e de se envolver em relações saudáveis.
Estatísticas Brasileiras sobre Estupro
De acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a cada ano, milhares de casos de estupro são registrados no Brasil. A maioria dos abusadores são conhecidos das vítimas, como familiares ou amigos próximos. Em média, os abusadores são pais, padrastos, tios ou vizinhos.
Vítimas Menores de Idade
As estatísticas mostram que uma parcela significativa das vítimas de estupro são crianças e adolescentes. No Brasil, a idade das crianças vítimas de abuso sexual varia principalmente entre 10 e 14 anos. Muitas vezes, as crianças não têm conhecimento suficiente sobre menstruação e gravidez, levando a uma demora na descoberta da gestação. Em alguns casos, a gravidez só é descoberta após 22 semanas, já que os sinais podem não ser óbvios.
Medo e Exposição
O medo de contar sobre o abuso é uma realidade devastadora para muitas vítimas. O estigma, a exposição e a falta de apoio podem fazer com que as vítimas silenciem. Além disso, nem todas as cidades ou metrópoles brasileiras têm acesso ao aborto legalizado, uma vez que alguns profissionais de saúde se recusam a realizar o procedimento por motivos pessoais ou religiosos.
Desenvolvimento Infantil
Ambiente Não Saudável
Crianças criadas em ambientes onde as mães foram forçadas a levar adiante gravidezes resultantes de abuso podem crescer em um ambiente de tensão e trauma não resolvido. Isso pode afetar negativamente seu desenvolvimento emocional e psicológico, resultando em problemas de comportamento e dificuldades de relacionamento.
Relação Mãe-Filho
A relação entre a mãe e a criança pode ser extremamente complicada. A presença da criança pode constantemente lembrar a mãe do abuso, afetando o vínculo materno. Essa dinâmica pode resultar em uma relação disfuncional, prejudicando o bem-estar de ambos.
Direitos Humanos e Autonomia Corporal
Violação dos Direitos
Obrigar uma vítima de estupro a levar adiante uma gravidez resultante do abuso é uma grave violação dos direitos humanos e da autonomia corporal. As vítimas têm o direito de decidir o que é melhor para suas próprias vidas e corpos.
Consentimento e Autonomia
Forçar uma mulher ou uma criança a ser mãe sob tais circunstâncias tira delas a capacidade de consentir e exercer controle sobre suas próprias vidas e corpos. Isso representa uma forma de controle coercitivo, que é eticamente indefensável.
Concluo dizendo, como educadora sexual, psicóloga da família, mulher e mãe, reconheço as complexidades éticas envolvidas na questão do aborto. Embora pessoalmente não apoie o aborto, sou firmemente contra a imposição da maternidade forçada em casos de abuso sexual. Acredito que é fundamental proteger a autonomia e a dignidade das vítimas, garantindo-lhes o direito à escolha e ao cuidado adequado. Arquivar projetos de lei que obriguem crianças e mulheres a serem mães dos filhos de seus abusadores é um passo essencial para promover justiça e respeito pelos direitos humanos
Fontes de Referencias:
- Fórum Brasileiro de Segurança Pública - Para estatísticas de crimes no Brasil, incluindo estupro.
- Site oficial: https://www.forumseguranca.org.br/
- Pesquisa Nacional de Aborto (PNA) - Para informações sobre acesso e legalidade do aborto no Brasil.
- Site oficial: https://pna.ibict.br/
- Instituto Patrícia Galvão - Fornece dados e estudos sobre violência contra as mulheres no Brasil.
- Site oficial: https://www.agenciapatriciagalvao.org.br/
Cris Silva – Até breve!