(A hegemonia da moda e a sua função indicial)
O que devo consumir? Meu desejo? Quem decide? Algo deve funcionar como o indicador do que se consome e o signo indicial mais eficiente é a moda. Essa função indicial que pode retratar, pôr exemplo: aspectos culturais importantes, também pode implicar efeitos ruins, pois na medida em que representa uma grande pressão social para o dever de adquirir o que se indica, compromete a criação da identidade, demonstrando, falsamente, modelos de personalidade ligados ao que se consome, funcionando o objeto de consumo como a apresentação do que se é.
De uma maneira mais direta: “a moda, como a linguagem, visa, antes de mais, a socialidade (...). Mas diferentemente da linguagem, que visa o sentido e perante ele desaparece, a moda visa uma socialidade teatral, e compraz-se em si mesma. Transforma-se de súbito, para cada um, num lugar intenso – espelho de um certo desejo da sua própria imagem. Contrariamente à linguagem que visa a comunicação, ela joga à comunicação, faz dela o desafio sem fim de uma significação sem mensagem. Daí o prazer estético, que nada tem a ver com a beleza ou a fealdade. Será, pois, uma espécie de festa, de excesso redobrado da comunicação? (Jean Baudrillard. Troca simbólica e a morte I, p. 157).
Não há problema em consumir moda, mas é bom ter cuidado para não se tornar um instrumento simbólico de algo que se deseja apresentar/representar, mas que não constitui a sua personalidade, mas sim um grau zero de pensamento, um a priori, uma desinformação, escondendo aquilo que é mais próximo do real. Assim, penso que “a moda é acompanhada de efeitos ambíguos; o que temos de fazer é trabalhar para reduzir a sua inclinação ‘obscurantista’ e aumentar a sua inclinação ‘esclarecida’, não procurando riscar num traço o strass da sedução, mas utilizando suas potencialidades libertadoras para a maioria.” (Gilles Lipovetsky. O império do efêmero, p. 18).
Enfim, a moda, e diante dela mais uma vez estamos em busca da nossa felicidade por intermédio de uma força ideológica vazia, que o mito da felicidade obscurece e torna cada vez mais distante a possibilidade de igualdade. E, no final, não se tem nem uma (felicidade) nem outra (igualdade).
A moda... acho démodé.