Você sabia que o pintor Van Gogh não arrancou a própria orelha? Você sabia que a Amazonia não é o pulmão do mundo? Você sabia que os vikings não usavam os clássicos capacetes com chifres? Você sabia que a guerra dos cem anos durou 116 anos? Você sabia que o grande Fiódor Dostoiévski escreveu que “a mentira é o único privilégio do homem sobre todos os outros animais?” Ou de forma mais completa nas palavras de Razumíkhin, em Crime e Castigo: "Julgam que eu me ponho assim porque eles mentem? Tolice! Eu gosto que eles mintam! A mentira é o único privilégio do homem sobre todos os outros animais. Vai mentindo... que depois hás de atingir a verdade! É precisamente por ser homem que eu minto." (Nova Cultural, círculo do livro, p. 231)
Mentirosos e fofoqueiros sempre existiram, mas agora, com a possibilidade de qualquer imbecil se pronunciar em rede mundial devido as atuais tecnologias disponíveis, as mentiras ganharam uma velocidade de propagação sem precedentes. É claro, que as antigas mentirinhas, agora fake news, vem gerando uma série de problemas das mais variadas ordens, de forma que não podemos confiar sem investigar profundamente o conteúdo de fotos, vídeos e textos. Leio com certa frequência uma grande quantidade de reflexões sobre o problema da mentira em nível planetário e, sinceramente, não confio na possibilidade de criação de mecanismos eficientes para conter a propagação de notícias falsas, a humanidade se desenvolveu com a frequente utilização da mentira, e assim continuará, de modo que, talvez, tenhamos que nos centrar mais nos enganados e não apenas nos mentirosos para ter algum sucesso na sua contenção.
Gosto sempre de lembrar da letra de Jorge Ben Jor que professa que para acabar com a malandragem temos que acabar primeiro com os otários, ou literalmente, nas palavras do músico: “tiranossauro REX, mandou avisar, que pra acabar com a malandragem tem que prender e comer todos os otários”. Me parece que o problema na internet merece essa reflexão, ou seja, toda notícia fake tem o seu criador (esse é o pior de todos e merece ser punido por regras jurídicas específicas para a conduta e não venha com blá blá blá de liberdade de expressão, vai estudar para entender o que de fato compreende esse importante direito) e os propagadores, que podem estar de boa-fé, e no caso são os otários, ou seja, os que acreditam na mentira e a distribuem, ou os de má-fé, que sabem que a notícia é falsa, mas a sua divulgação, de alguma maneira, lhes interessa, ambos também merecem ser punidos em graus diferentes por leis que tipifiquem as suas condutas.
Dessa maneira, os criadores são os que contribuem com a constituição do falso, mas os principais responsáveis pelos efeitos sociais das fake news são os otários, uma vez que, o criador e o propagador de má-fé sabem que a notícia, o vídeo ou a foto são falsas, mas o propagador de boa-fé, ou otário, é o que acredita que se trata de algo verdadeiro e é com esse que me preocupo mais, pois parecem ser a maioria.
De outra banda, também temos que considerar que o desenvolvimento de novos mecanismos de comunicação em massa, é claro, aumentam o número de notícias falsas, mas também aumentam as possibilidades de conferir a sua falsidade. Infelizmente, agora temos que trabalhar pressupondo que algumas notícias são falsas, ou seja, acreditamos mais na falsidade do que na veracidade do que recebemos de informação. Nesse ponto, deve-se ponderar que o MIT a partir de padrões das mentiras divulgadas, criou o algoritmo capaz de detectar com 75% de acerto, se um rumor no twitter é falso ou não (como noticiam Virgilio Almeida, Danilo Doneda e Ronaldo Lemos em artigo publicado na Folha de S. Paulo do dia 08/04/18, ilustríssima, intitulado “A nova fase das fake news”).
Devemos lembrar, que toda a guerra fria foi desenvolvida sobre “notícias falsas” divulgadas pelos dois lados. Os Estados Unidos rotineiramente se aproveitam de informações falsas para justificar as suas invasões bélicas e até aqui no Brasil, ainda temos mentirosos divulgando com convicção que Capitu traiu ou não traiu Bentinho (ninguém sabe, nem o Machado). Portanto, monte as suas fontes confiáveis de informações na rede, todos nós sempre sabemos que temos amigos e amigas que merecem investigação mais atenta sobre o que falam e nos passam via redes sociais. Os bem formados e preparados também podem fazer papel de otários, desconfiem de todos. Se a informação for sobre política, merece investigação muito mais cautelosa, pois as pessoas não apenas mentem, mas também compreendem os fatos de acordo com as suas convicções pessoais, de forma que elas não questionam as suas “verdades”, simplesmente as espalham. Não forme as suas convicções por posts de redes sociais e cuidado com alguns comunicadores hábeis em dirigir as suas escolhas e argumentos, o que ocorre não apenas nas redes sociais, mas também nas tvs e nos programas de rádio. Deixe de lado os comunicadores que procuram engajamento e são seguidos e curtidos por milhares ou milhões de seguidores, siga os que demonstram conhecimento técnico sobre o que falam ou escrevem. Não se esqueça também de voltar a ler livros e conversar mais com os seus professores. Enfim, não seja mais um otário.