Liliane Macedo

Sobre a autora

Do Bocado à Nutrição: A Mastigação como Pilar da Boa Digestão
08/03/2024 às 10h44

A vida moderna muitas vezes nos conduz a hábitos alimentares apressados, nos quais a mastigação, um ato aparentemente simples, é frequentemente negligenciada. Contudo, sua importância transcende a mera quebra mecânica dos alimentos. A mastigação desempenha um papel vital no processo digestivo, influenciando não apenas a eficiência, mas também a absorção de nutrientes essenciais para o funcionamento saudável do organismo.

Enquanto as tendências nutricionais e dietéticas continuam a evoluir, é imperativo revisitar práticas fundamentais, como a mastigação, e compreender sua relação intrínseca com a saúde digestiva. Neste artigo, exploraremos os intricados mecanismos por trás da mastigação e como essa prática aparentemente simples pode ser um ponto-chave para otimizar a digestão e, por conseguinte, promover uma melhor assimilação de nutrientes. Prepare-se para mergulhar fundo no mundo da mastigação consciente e descobrir como esse hábito, muitas vezes subestimado, pode ser a chave para uma saúde digestiva exemplar.

A mastigação inicia-se na fase encefálica, ou seja, apenas o ato de sentirmos o cheiro, olharmos, pensar e até mesmo falar sobre o alimento já resulta em diversos processos que irão preparar o nosso organismo para receber e digerir os alimentos. Neste momento, já começa a aumentar a produção de ácido clorídrico, enzimas digestivas, salivação e movimentos peristálticos (pequenas contrações) do trato gastrointestinal antes mesmo de começarmos a consumir o alimento.

A próxima etapa é a mastigação, onde os nossos dentes têm papel crucial na quebra dos alimentos (digestão mecânica), tornando-os em tamanhos menores para que a digestão seja simplificada posteriormente. A salivação, além de ter o papel de umedecer o alimento para facilitar a mastigação e deglutição, também possui a amilase salivar que iniciará o processo de digestão dos carboidratos. Esse alimento que será deglutido (engolido) precisa ser muito bem quebrado pelos dentes antes de chegar no estômago, pois o nosso estômago não tem "dentes" e não é um triturador de alimentos como muitos pensam!

Ao chegar no estômago, os alimentos sofrerão a ação do ácido clorídrico, que além de ter um papel importante na digestão – principalmente de proteínas – também atua como defesa do nosso organismo, destruindo patógenos que possam estar presentes no alimento, além de ser necessário para a absorção de alguns nutrientes como ferro, cálcio, vitamina B12 e outros.

Quando os alimentos saem do estômago, eles irão em direção à primeira porção do nosso intestino delgado (duodeno) e lá, os alimentos começarão a sofrer uma ação mais expressiva das enzimas digestivas para que aquele pedaço de alimento que você ingeriu possa ser reduzido ainda mais, favorecendo a extração dos nutrientes daquele alimento para que posteriormente sejam absorvidos pelo intestino delgado.

No entanto, as enzimas digestivas não atuam no interior dos alimentos, e sim na superfície dos alimentos. E se você não mastigou adequadamente os alimentos antes de deglutir, você terá problemas com isso. Se a mastigação foi ruim, esse alimento chegará em um tamanho macro que não será totalmente digerido. Mas, o nosso organismo é muito inteligente e, então, esse alimento mal digerido chegará no cólon (intestino grosso) e será fermentado por bactérias da microbiota intestinal e, como resultado, você terá aquela distensão abdominal, excesso de gases anorretais fétidos, arrotos e até mesmo poderá ter a presença de diarreia. E um alimento mal digerido acaba danificando a mucosa intestinal, sendo um fator de risco importante para hiperpermeabilidade intestinal (assunto para um outro momento), que trará consequências ruins para a saúde!

E além de tudo isso, quando o alimento não é bem digerido, os nutrientes não serão extraídos eficientemente para que possam ser absorvidos (e lembrando, não absorvemos alimentos, digerimos os alimentos e absorvemos os nutrientes presentes no alimento) e ao longo prazo, começará a resultar em deficiências nutricionais como ferro, cálcio, vitamina B12, magnésio, vitamina D e muitos outros. E dessas deficiências nutricionais, resultará em desordens nutricionais como, por exemplo, anemias, distúrbios ósseos (osteoporose, fraturas, osteopenia...), hipovitaminoses e afins.

Vejam como uma mastigação eficiente se faz necessária, quantas coisas podemos prevenir apenas por um simples ato. Alguns estudos recomendam que é preciso mastigar no mínimo 30 vezes o alimento antes de ser deglutido, tornando o alimento uma massa homogênea e lisa. Existem estratégias importantes para que a mastigação seja adequada e esse será o tema do próximo artigo. Fiquem ligados!

 

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